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| Foto: Orgulho e Preconceito, de Jane Austen / Fonte: Google Imagens |
Resenha Literária — Orgulho e Preconceito, de Jane Austen
Sinopse: Orgulho e Preconceito
Às vezes o amor surge como uma revelação, mas em outras… ele chega como um espelho cruel. Elizabeth Bennet acreditava entender o mundo — as convenções, os sorrisos falsos, os julgamentos da sociedade — até que o encontro com Fitzwilliam Darcy a fez perceber o quanto o orgulho pode cegar o coração.
Entre bailes, mal-entendidos e cartas que doem mais do que feridas, Austen constrói uma história em que o amor só floresce quando o ego se curva e o preconceito se desfaz. É uma dança lenta — entre duas almas orgulhosas que precisam aprender a ver uma à outra sem máscaras.
Análise Pessoal de Orgulho e Preconceito
Eu senti como se cada palavra fosse um reflexo do que eu mesma já vivi — aquele instante em que o coração se recusa a admitir o que sente, apenas por medo de se humilhar. Elizabeth me parecia uma chama presa em vidro: brilhante, mas contida. E Darcy… ah, Darcy era a própria tempestade, contida em carne e terno.
A leitura me fez lembrar que o amor, quando é verdadeiro, não começa com encantamento, mas com resistência. Jane Austen escreveu com a ironia de quem observa o mundo e ri dele, mas também com a ternura de quem já foi ferida por suas próprias ilusões.
Cada diálogo é uma confissão disfarçada. Cada silêncio entre Lizzy e Darcy carrega um universo inteiro de negação e desejo. E no fim, quando o orgulho se dissolve, o que resta é o que sempre esteve ali — o amor, tímido e feroz, esperando ser reconhecido.
Retrato Social de Orgulho e Preconceito
Orgulho e Preconceito (1813) é muito mais do que a história de Elizabeth e Darcy. É um retrato social aguçado da Inglaterra na virada para o século XIX, que critica as convenções e a mentalidade da época através de seus personagens secundários.
O Palco: A Inglaterra Rural e a Luta Pela Sobrevivência
A história se desenrola na Inglaterra rural da Era Georgiana e inícios da Regência (a obra foi publicada em 1813, mas escrita antes). Esta era foi marcada por:
- A "Gentry" (Baixa Nobreza): O livro foca nessa classe de proprietários de terras que viviam de suas rendas, como os Bennet. Eles eram a elite social do campo, mas economicamente vulneráveis.
- O Ato de Vínculo (Entailment): Este é o motor de toda a ansiedade da Sra. Bennet. A lei inglesa da época determinava que a propriedade da família, Longbourn, só podia ser herdada por um herdeiro do sexo masculino. Com o falecimento do Sr. Bennet, a casa passaria para o parente homem mais próximo, o Sr. Collins. Isso tornava o casamento o único meio de subsistência para as filhas Bennet.
Descobertas e Inovações Sociais da Época
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| Foto: Jane Austen / Fonte: Google Imagens |
Jane Austen não fala diretamente de grandes descobertas científicas (a Revolução Industrial já estava em andamento, mas discretamente fora de seu foco), mas sim de revoluções sociais e morais:
- A Educação Feminina: O livro questiona o que era esperado de uma "dama". Enquanto muitas jovens (como as irmãs Bingley e, em menor grau, Mary Bennet) se dedicavam a "realizações" (piano, desenho, bordado) apenas para atrair maridos, Elizabeth representa a força da inteligência e da sagacidade. O fato de Darcy se apaixonar pela mente de Elizabeth, e não apenas por sua beleza ou habilidades superficiais, é uma "descoberta" moral à frente de seu tempo.
- O Questionamento do Decoro: O caminhar de Elizabeth por milhas até Netherfield para visitar Jane, chegando com a saia enlameada, é visto como uma falta de "decoro" pela alta sociedade (especialmente por Miss Bingley). Elizabeth desafia as normas que exigiam que as mulheres fossem frágeis e confinadas.
Os Personagens Secundários: Espelhos da Sociedade
Em Orgulho e Preconceito, os personagens coadjuvantes de Jane Austen estão longe de ser meros figurantes. Eles são, na verdade, espelhos sociais e caricaturas afiadas que a autora utiliza para criticar, com humor mordaz, os diversos tipos e as pressões sufocantes da sociedade da época. Estes personagens adicionam profundidade, drama e, principalmente, comicidade à luta de Elizabeth.
Dentre eles, cinco figuras são essenciais para entender a crítica de Austen e a complexidade do mundo de Elizabeth Bennet. São eles:
- Sra. Bennet
- Sr. Collins
- Charlotte Lucas
- Lydia Bennet
- Lady Catherine de Bourgh.
1. Sra. Bennet: Nervos e lei do entailment
A Sra. Bennet é a mãe histérica e tagarela da família, cuja única ambição na vida é casar suas cinco filhas o mais rápido e vantajosamente possível. Ela é caracterizada por seus "nervos" e sua constante preocupação com a falta de maridos ricos para suas filhas, uma ansiedade gerada pela lei do entailment que ameaça a segurança financeira da família. Superficial e dada a fofocas, seus comentários inoportunos e a falta de decoro são uma fonte constante de embaraço para suas filhas mais velhas (Jane e Elizabeth) e de sarcasmo para seu marido. Ela representa, de forma cômica e desesperada, a pressão social e econômica sobre as mulheres e mães na Inglaterra rural do século XIX.
- Função Social: A Mãe Obcecada.
- Crítica de Austen: Embora sua figura seja cômica com suas crises de "nervos" e sua obsessão por casamentos, ela expõe a pressão social e econômica esmagadora sobre as mães que precisavam desesperadamente garantir o futuro de suas filhas na ausência de herança.
2. Sr. Collins: O clérigo da Igreja Anglicana
O Sr. Collins é o primo da família Bennet e o herdeiro legal de Longbourn. Ele é um clérigo da Igreja Anglicana, notório por sua exagerada subserviência e bajulação, especialmente em relação à sua patrona, Lady Catherine de Bourgh. Collins é pedante, formal e pomposo, utilizando uma linguagem desnecessariamente rebuscada para esconder sua falta de profundidade intelectual. Ele propõe casamento a Elizabeth Bennet de forma fria e calculada, vendo o matrimônio como um dever social e um meio de obter a aprovação de sua patrona. O personagem é a sátira perfeita de Jane Austen à vaidade, à submissão e à mediocridade do clero servil da época.
- Função Social: O Clero Servil.
- Crítica de Austen: Ele representa a subserviência, a vaidade e o pedantismo. Seu casamento com Charlotte Lucas é um acordo puramente prático e insípido, onde ele obtém uma esposa para satisfazer sua patrona, e ela, a segurança financeira.
3. Charlotte Lucas: A desprovida
Charlotte Lucas é a melhor amiga de Elizabeth Bennet e uma das figuras mais pragmáticas e realistas do romance. Aos 27 anos, e ciente de sua falta de dote e beleza, ela é guiada pela necessidade de segurança financeira, e não pelo amor. Sua decisão mais notável é aceitar o pedido de casamento do ridículo Sr. Collins. Essa escolha, desprovida de ilusões românticas, serve como a crítica social mais dura de Jane Austen, expondo a difícil realidade de que muitas mulheres da época eram forçadas a sacrificar a paixão e a felicidade pessoal em troca de um lar seguro e status social.
- Função Social: A Realista.
- Crítica de Austen: Sua decisão de se casar por segurança (Não sou romântica... só quero um lar seguro") é a crítica social mais dura do livro. Ela mostra a difícil realidade das mulheres inteligentes, mas sem recursos, forçadas a sacrificar o amor pela estabilidade e proteção social.
4. Lydia Bennet: Compulsada por flertes, bailes e atenção
Lydia Bennet é a mais jovem das irmãs Bennet e a personificação da frivolidade, da imaturidade e da irresponsabilidade. Obcecada por flertes, bailes e pela atenção dos oficiais do exército, ela é guiada puramente por seus impulsos e busca por prazer. Seu comportamento leviano culmina no maior escândalo do romance: a fuga com o oficial George Wickham. Lydia representa o perigo de uma educação moral negligente e demonstra a extrema fragilidade da reputação feminina na época, cujas ações irresponsáveis ameaçaram arruinar socialmente toda a sua família.
- Função Social: A Imprudente.
- Crítica de Austen: Seu escândalo de fugir com Wickham expõe o perigo real da frivolidade e a extrema fragilidade da reputação de toda a família. O casamento forçado, neste contexto, é a única coisa que salva a honra social de todos os Bennet.
5. Lady Catherine de Bourgh: Classe e o Elitismo
Lady Catherine de Bourgh é a rica e arrogante tia do Sr. Darcy, que personifica o Orgulho de Classe e o Elitismo ditatorial. Ela está obcecada com sua posição social e convencida de sua superioridade, acreditando ter o direito de ditar a vida de todos que a cercam. Sua principal ação na trama é a tentativa autoritária de impedir o casamento de Elizabeth com Darcy, alegando que Elizabeth não tem o nascimento adequado. Ela é o alvo da sátira de Jane Austen contra a soberania cega e a defesa desesperada da hierarquia social.
- Função Social: A Nobre Arrogante.
- Crítica de Austen: Ela encarna o Orgulho de Classe e o Elitismo. Sua tentativa de impedir o casamento de Elizabeth com Darcy é uma defesa desesperada da hierarquia social e da crença de que a alta nobreza deve controlar o destino dos "inferiores".
Em outras palavras, Orgulho e Preconceito utiliza o romance central para tecer uma sátira sutil, mas mordaz, sobre a luta da mulher por liberdade intelectual e emocional em uma sociedade dominada por regras de classe e pela necessidade econômica do casamento.
Temas e Mensagens que Orgulho e Preconceito tenta passar para o leitor
- A cegueira causada pelo orgulho e pelo julgamento precipitado.
- O conflito entre o amor e as convenções sociais.
- A força da mulher que pensa e sente — mesmo quando o mundo a quer calada.
- O autoconhecimento como condição para amar verdadeiramente.
Estilo de escrita da Autora Jane Austen em Orgulho e Preconceito
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| Foto: Jane Austen / Fonte: Google Imagens |
Jane Austen escreve como quem sussurra segredos à noite. Sua ironia é fina como uma lâmina, mas a dor que ela revela é silenciosa. O texto é elegante, fluido e cheio de pequenos gestos — olhares, frases interrompidas, danças que dizem mais do que discursos.
É um romance que não precisa de tragédias para ser profundo. A dor aqui é contida, educada — e talvez por isso, ainda mais devastadora.
Prós
- Personagens femininas inteligentes e autênticas.
- Crítica social envolta em humor e sutileza.
- Um romance que cresce em complexidade a cada releitura.
- A transformação emocional de Darcy — uma das mais belas da literatura.
Contras
- O ritmo pode parecer lento aos leitores acostumados a tramas mais intensas.
- O contexto social, tão distante do presente, pode exigir paciência para ser compreendido.
- Algumas passagens se perdem em formalidades, o que ofusca um pouco o calor das emoções.
Possíveis Inspirações da Autora para escrever Orgulho e Preconceito
Austen viveu numa época em que as mulheres eram definidas por casamento e fortuna. Elizabeth Bennet é, em parte, a revolta que Austen nunca pôde viver plenamente. Darcy, por outro lado, representa a redenção que ela talvez tenha sonhado — o homem capaz de amar uma mulher pela mente e não pela dote.
Há em "Orgulho e Preconceito" o eco da própria solidão de Austen: um desejo de ser compreendida num mundo que apenas tolerava.
Para compreendermos a profundidade de Orgulho e Preconceito, é fundamental irmos além do romance. Ao analisarmos as possíveis inspirações e influências de Jane Austen para a obra, chegamos à seguinte observação histórica central:
Jane Austen (1775–1817) é mestra em retratar a sociedade e os costumes de sua época. Orgulho e Preconceito (publicado em 1813) é o resultado de suas observações aguçadas, influências literárias e experiências pessoais dentro da gentry (baixa nobreza rural) inglesa.
1. A Experiência Pessoal e o Contexto Familiar
A maior inspiração de Austen foi a vida que ela mesma observou e viveu, especialmente dentro do seu próprio círculo social.
- A Posição da Gentry: A família Austen pertencia à gentry rural (o pai era reitor, com ligações familiares com a baixa nobreza). Jane estava perfeitamente posicionada para observar as pressões sobre as famílias com filhas para casar, as dinâmicas de herança e as complexas regras de etiqueta social.
- O Casamento como Necessidade: Jane Austen nunca se casou e conheceu bem as limitações financeiras e a dependência social que afligiam as mulheres solteiras e sem dote, como ela. Essa realidade é transferida diretamente para o desespero da Sra. Bennet e o pragmatismo de Charlotte Lucas.
- A Inteligência da Heroína: Jane era conhecida por sua inteligência e sagacidade, características que são infundidas em Elizabeth Bennet. A admiração de Darcy pela mente de Elizabeth reflete o valor que Austen atribuía à inteligência feminina em uma época que priorizava a beleza e as "realizações" (como tocar piano).
2. Influências Literárias e a Crítica ao Romance Sentimental
Austen lia vorazmente e frequentemente satirizava os gêneros literários populares de seu tempo.
- Comédia de Costumes: Austen se inspira nos autores de Comédia de Costumes (como Sheridan), que utilizavam o humor e a sátira para expor as hipocrisias e os vícios da sociedade.
- O Romance Gótico e Sentimental: A autora se propôs a desmistificar a paixão exagerada e a sensibilidade doentia presentes no Romance Sentimental da época. Orgulho e Preconceito foca na razão, na inteligência e na decência como bases para o amor duradouro, e não apenas na atração impulsiva (o que a distingue do romance Crepúsculo, por exemplo, que se concentra na paixão visceral).
- Foco no Diálogo: A influência do teatro e da literatura de diálogos é clara na vivacidade e inteligência das conversas. Os longos e perspicazes diálogos entre Elizabeth e Darcy são o motor da trama.
3. A Sátira da Sociedade e dos Tipos Humanos
As inspirações para os personagens específicos vieram da observação de tipos sociais recorrentes:
- Os Pais Ausentes ou Excêntricos: A figura do Sr. Bennet (distante e irônico) e da Sra. Bennet (histérica e obcecada) provavelmente refletem a observação de casamentos desiguais e a ironia de Austen sobre as falhas parentais.
O Paradoxo do Orgulho e Preconceito: A ideia de que um nobre (Darcy) e uma mulher de classe inferior (Elizabeth) se unem, após superarem seus próprios defeitos morais, é o núcleo filosófico da obra, inspirado na necessidade de um entendimento mútuo e de autocrítica para um casamento bem-sucedido.
Enfim, para resumir, a inspiração de Jane Austen para Orgulho e Preconceito não veio de grandes eventos históricos, mas da meticulosa observação da vida doméstica e das batalhas diárias por status, segurança e amor na Inglaterra rural.
Obras Semelhantes a Orgulho e Preconceito
- Jane Eyre, de Charlotte Brontë — pela força feminina e o amor que nasce da dor.
- E o Vento Levou, de Margaret Mitchell — por sua intensidade e conflito entre orgulho e paixão.
- Razão e Sensibilidade, da própria Jane Austen — um reflexo mais contido, mas igualmente emocional.
Reflexão Final sobre a história de Orgulho e Preconceito
Quando fechei o livro, senti algo dentro de mim ceder. Como se eu também tivesse me desculpado por todos os julgamentos apressados, por todo amor que deixei escapar por medo de parecer vulnerável.
Elizabeth e Darcy não me ensinaram o que é amar — me ensinaram o que é ceder.
E talvez o amor verdadeiro seja isso: a coragem de deixar o orgulho morrer para que o coração respire.
Informações do Livro - Google Books
Informações da obra em Companhia das Letras
Título: Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice)
Autora: Jane Austen
Ano de Publicação: 1813
Gênero: Romance Clássico, Comédia de Costumes
Editora: Penguin Companhia / Zahar / Martin Claret
Tradução: Lúcia Miguel Pereira / Ivo Barroso
Páginas: 376 (edição média)
ISBN: 9788577991235
Classificação: 12+ anos
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