![]() |
| Foto: Filme Morro dos Ventos Uivantes / Fonte: Google Imagens |
Resenha Literária Completa – O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë
A fúria do amor que nasce do vento e morre no silêncio.
Prepare-se para adentrar uma das histórias mais intensas e devastadoras da literatura mundial. O Morro dos Ventos Uivantes não é apenas um romance; é uma tormenta emocional. Uma obra que nos arranca da zona de conforto e nos lança nas profundezas da alma humana — onde o amor e o ódio, a paixão e a vingança, coexistem na mesma carne.
Escrito por Emily Brontë em 1847, este livro é o retrato cru de um amor que nunca conheceu a paz — e talvez, por isso, nunca tenha morrido.
Introdução a história: O Amor Que Nasceu na Tempestade
![]() |
| Foto: Heathcliff e Catherine / Fonte: Sabryna Rosa |
Alguns amores não foram feitos para florescer. Foram feitos para arder.
Na solidão dos páramos ingleses, em meio ao vento incessante e à desolação das colinas, Emily Brontë criou o cenário perfeito para um amor amaldiçoado. O Morro dos Ventos Uivantes é o retrato dessa força indomável — de um sentimento que, em vez de salvar, consome.
A história, narrada de forma fragmentada e envolta em melancolia, nos apresenta um círculo de dor e desejo que se repete como as rajadas do vento que assombram a propriedade de Wuthering Heights.
Enredo: O Amor Que Não Soube Ser Luz
![]() |
| Foto: Heathcliff e Catherine Earnshaw / Fonte: Sabryna Rosa |
A trama gira em torno de Heathcliff e Catherine Earnshaw, duas almas gêmeas que se encontram ainda na infância. Ele, um garoto órfão e misterioso, adotado pelo pai de Catherine; ela, uma jovem selvagem e apaixonada pela liberdade.
A conexão entre ambos é imediata — visceral, quase sobrenatural. Mas o destino, a diferença social e o orgulho erguem muralhas que nenhum dos dois consegue atravessar.
Quando Catherine decide casar-se com Edgar Linton, um homem gentil e abastado, Heathcliff é consumido por uma fúria silenciosa. Seu amor se transforma em rancor, e sua volta anos depois desencadeia uma vingança que atravessa gerações, arruinando todos ao redor.
O romance é um espelho da condição humana: o amor que redime e destrói, o desejo que vira maldição.
Temas Principais em O Morro dos Ventos Uivantes
- Amor e Destruição: Brontë redefine o amor romântico — não como ideal, mas como tormento. Heathcliff e Catherine não amam para se completarem, mas para se devorarem.
- A Natureza Humana e o Caos: O cenário agreste reflete o interior dos personagens — a paisagem é uma extensão da alma.
- Classe e Exclusão: O preconceito e as diferenças sociais funcionam como fronteiras invisíveis, onde o amor é impossível.
- A Eternidade do Sentimento: Mesmo após a morte, o vínculo entre Catherine e Heathcliff continua a ecoar como o vento entre os morros.
A Força do Cenário: O Morro Como Personagem
![]() |
| Foto: Heathcliff e Catherine / Fonte: Sabryna Rosa |
O ambiente criado por Emily Brontë é mais do que um pano de fundo — é o espelho das emoções.
As colinas sombrias, o frio cortante e o vento constante traduzem o desespero e a paixão dos personagens. O Morro dos Ventos Uivantes é um lugar vivo, que respira a alma de seus habitantes.
A oposição entre as propriedades Wuthering Heights (selvagem e hostil) e Thrushcross Grange (delicada e civilizada) simboliza a guerra entre a natureza indômita e a sociedade domesticada.
Estilo e Construção Literária de Emily Brontë em O Morro dos Ventos Uivantes
![]() |
| Foto: Emily Brontë / Fonte: Literatura Inglesa |
Emily Brontë escreveu como quem sangra. Sua prosa é poética e brutal, marcada por metáforas góticas e emoções cruas.
O uso de narradores múltiplos — Lockwood e Nelly Dean — cria uma estrutura em camadas, como um eco distante que se repete nas paredes da casa.
A linguagem é densa, repleta de contrastes e paradoxos. Cada página parece sussurrar a confissão de uma alma atormentada.
Inspirações e Influências de Emily Brontë para escrever "O Morro dos Ventos Uivantes" em 1847
1. O Cenário Inóspito: O Pântano de Yorkshire (The Moors)
A maior e mais palpável influência de Emily Brontë foi o ambiente onde ela cresceu e viveu: a região de Haworth, nos pântanos de Yorkshire.
- A Atmosfera Gótica: O cenário dos pântanos é inóspito, selvagem e melancólico. A natureza indomável, a constante exposição ao vento (wuthering), e o isolamento físico refletem e amplificam a ferocidade e o caos emocional dos personagens, em especial de Heathcliff e Catherine.
- Realidade Viva: Para Emily, o pântano não era apenas uma paisagem, mas uma realidade viva. As descrições da paisagem são viscerais e simbióticas com a natureza humana. Os ventos, a urze e o isolamento criam uma sensação de claustrofobia e aprisionamento, fundamentais para o drama.
- Arquitetura Local: Acredita-se que a casa Law Hill, onde Emily trabalhou brevemente como governanta, pode ter servido de inspiração para a construção da casa Wuthering Heights (O Morro dos Ventos Uivantes).
2. Influências Literárias e Artísticas
O Morro dos Ventos Uivantes está fora dos cânones do romance social vitoriano da época (como os de Dickens), sendo profundamente marcado pela:
- Literatura Gótica: Elementos góticos são centrais, como o cenário sombrio, os eventos misteriosos, a presença de fantasmas (o fantasma de Catherine), a maldição, e o foco em temas como a loucura, a morte e a obsessão.
- Romantismo e Lord Byron: A obra absorve o intenso drama emocional do Romantismo, especialmente a figura do herói byroniano — um indivíduo melancólico, sombrio, apaixonado e rebelde. Heathcliff encarna esse tipo, com sua paixão desmedida e vingativa que desafia as normas sociais e morais.
- Dramaturgia Elizabetana e Jacobeia: Pesquisadores apontam que a estrutura e a intensidade da trama, com seus temas de vingança, crueldade e violência, têm ecos da dramaticidade trágica das peças elisabetanas e jacobeias.
3. O Círculo Familiar e Social
O ambiente familiar dos Brontë, embora recluso, forneceu inspiração psicológica e social:
- Branwell Brontë: O irmão de Emily, Branwell, era talentoso, mas sucumbiu ao vício em álcool e drogas, resultando em uma derrocada trágica. Muitos críticos veem em sua autodestruição uma possível inspiração para a construção de personagens problemáticos e irascíveis, como Hindley Earnshaw e, em parte, o próprio Heathcliff.
- Crítica Social Oculta: Embora não seja um romance de crítica social aberta, a obra aborda a rigidez da estrutura de classes e o patriarcado vitoriano. A autora critica como a sociedade imperialista e patriarcal oprimia tanto as mulheres (Catherine se casa por status) quanto o "outro" — a figura de Heathcliff, um órfão de origem racial e social ambígua, que é desqualificado pela elite inglesa até adquirir riqueza.
Os quatro pontos de referências de Emily Brontë em Morro dos Ventos Uivantes
Emily Brontë teceu uma trama atemporal ao misturar o selvagem realismo da natureza de Yorkshire com o intenso drama psicológico da tradição gótica e romântica. Além disso, há mais quatro pontos de referências que Emily Brontë usou para escrever sua obra, são eles:
- Romantismo Inglês: A influência de Byron e Shelley é visível na figura trágica de Heathcliff — o herói byroniano, rebelde, apaixonado e condenado.
- Gótico Vitoriano: Os elementos sombrios, a casa isolada e o clima de decadência dialogam com o gênero gótico, então em ascensão.
- Religiosidade e Transcendência: Brontë, filha de pastor, costura na obra reflexões espirituais — o amor que transcende a morte, o castigo e a redenção.
- A Natureza Como Divindade: O vento, a chuva e o campo funcionam como deuses silenciosos que moldam o destino dos homens.
Pontos Fortes
- Retrato psicológico profundo e visceral.
- Narrativa ousada e inovadora para o século XIX.
- Atmosfera única — o cenário é tão intenso quanto os personagens.
- Reflexão atemporal sobre amor e destruição.
- Escrita poética, rica em simbolismo e melancolia.
Pontos Fracos
- Estrutura narrativa complexa pode confundir leitores iniciantes.
- Personagens movidos por extremos — poucos momentos de leveza.
- Ritmo irregular em trechos de transição entre gerações.
- Linguagem arcaica em algumas traduções dificulta o ritmo de leitura.
Obras Semelhantes
- Jane Eyre, de Charlotte Brontë — pela atmosfera gótica e introspecção emocional.
- Orgulho e Preconceito, de Jane Austen — contraste entre amor e convenções sociais.
- Anna Kariênina, de Tolstói — o amor trágico e a perda da identidade.
- O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde — a corrupção e o amor que destrói.
Curiosidade: A Solidão de Emily Brontë
Emily Brontë escreveu O Morro dos Ventos Uivantes em completo isolamento, sob o pseudônimo masculino Ellis Bell, para ser levada a sério no ambiente literário da época.
Sua morte precoce, aos 30 anos, transformou o livro em uma espécie de testamento — a confissão de uma alma que viveu mais no papel do que no mundo.
Conclusão final: O Amor Que o Tempo Não Calou
O Morro dos Ventos Uivantes não é um livro para ser lido — é um livro para ser sentido. É a tempestade que passa e deixa o corpo em silêncio, o coração em ruínas.
Heathcliff e Catherine não tiveram o amor que desejavam, mas tiveram o amor que o mundo teme: aquele que não morre, mesmo quando tudo já se foi.
Emily Brontë nos lembra que o verdadeiro amor não é belo — é selvagem, imperfeito, doloroso — e, por isso mesmo, eterno.
Informações do livro na Play Google Books
Informações da Obra em Companhia das Letras
Título: O Morro dos Ventos Uivantes (Wuthering Heights)
Autora: Emily Brontë
Tradução (ed. recente): Adriana Lisboa / Lúcia Machado de Almeida (varia por edição)
Editora: Penguin Companhia / Principis / DarkSide Books
Ano de Publicação: 1847
Gênero: Romance Gótico, Drama, Literatura Clássica
Páginas: Entre 350 e 420 (dependendo da edição)
ISBN: 978-8572328450 (edição Penguin Companhia)
Série: Obra única
Classificação Indicativa: 14+ anos
🔗 Saiba mais:
https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=13102




