| Foto: As Crônicas de Nárnia / Fonte: Google Books |
Resenha literária: As Crônicas de Nárnia, de C.S. Lewis
Às vezes, eu me pegava olhando pela janela, imaginando como seria abrir a porta do meu guarda-roupa e encontrar um mundo inteiro esperando por mim. Talvez tenha sido isso que me levou de volta a "As Crônicas de Nárnia" — a sensação de que a infância ainda respirava dentro de mim, mesmo depois de tanto tempo tentando ser adulta. A verdade é que a série de C.S. Lewis não é apenas fantasia; é um mapa para o reino esquecido que reside em todos nós.
A série é, essencialmente, a celebração da simplicidade mágica. Lewis não precisou de portais grandiosos ou de feitiços complexos para nos levar a outro lugar. Ele usou a mobília de uma casa antiga, um anel de terra ou, no caso mais famoso, um guarda-roupa coberto de peles de casaco. Essa ideia de que o limiar entre o ordinário e o extraordinário é algo que encontramos no nosso próprio quarto é o que torna Nárnia tão inesquecível. É a promessa constante de que a aventura está sempre à espreita, acessível através de um mero ato de curiosidade.
O retorno a Nárnia é também um reencontro com os arquétipos da moralidade. As crianças Pevensie — Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia — são os nossos guias, e cada um lida com uma tentação e um crescimento diferente. A maneira como Lewis nos apresenta temas como a lealdade, a traição e o perdão, sem nunca soar excessivamente didático, ressoa profundamente. Somos convidados a refletir sobre o nosso próprio caráter, vendo em cada criança Pevensie um espelho das nossas virtudes e falhas.
E é impossível falar da série sem mencionar Aslan. O grande leão não é apenas um personagem; ele é a força primordial de bondade, justiça e sacrifício. A presença dele, ao mesmo tempo nobre e perigosa, dá à história um peso emocional que vai além da fantasia. Nárnia é o palco onde as crianças se tornam reis e rainhas, mas é a crença inabalável em Aslan que as torna dignas do trono, reforçando o poder da fé sobre o cinismo.
Se você está buscando uma história que oferece conforto e aventura, que questiona a maturidade e celebra o mistério, você precisa se deixar levar por esta jornada. Para aqueles que desejam redescobrir a maravilha de acreditar no impossível, e para os que querem sentir a brisa mágica do ar de Nárnia, o guarda-roupa está aberto. Prepare-se para atravessar o limiar.
Sinopse do livro As Crônicas de Nárnia
Em "As Crônicas de Nárnia", sete livros se entrelaçam para formar uma das histórias mais mágicas e simbólicas da literatura moderna. Tudo começa quando quatro irmãos — Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia — descobrem um guarda-roupa que é, na verdade, um portal para outro mundo. Lá, conhecem criaturas falantes, feiticeiras, reis, e o majestoso leão Aslam, símbolo de força, bondade e redenção.
Cada volume traz uma nova jornada, uma batalha entre a luz e as trevas, e uma reflexão sobre fé, coragem e sacrifício. C.S. Lewis constrói Nárnia como um espelho encantado do nosso próprio mundo, onde o bem e o mal disputam o coração humano.
Mais do que uma fantasia, Nárnia é uma viagem espiritual, filosófica e emocional. Uma fábula eterna sobre o que significa crescer — e ainda assim manter viva a pureza de acreditar.
Introdução à história de As Crônicas de Nárnia
Lembro-me de quando li Nárnia pela primeira vez — eu ainda acreditava que as coisas boas duravam para sempre. Talvez por isso, voltar à leitura agora foi como revisitar um sonho esquecido. As palavras de Lewis pareciam mais maduras, mais cheias de dor e beleza ao mesmo tempo.
O autor mistura o simples e o profundo de um jeito que parece conversar com cada fase da vida. Quando criança, vi Nárnia como um mundo mágico. Agora, vejo como um reflexo dos dilemas humanos — fé, culpa, perdão, perda.
Há algo de cruelmente belo na forma como C.S. Lewis fala sobre a inocência e o sacrifício. Nárnia é encantamento, mas também é melancolia. É a metáfora perfeita daquilo que deixamos para trás sem perceber.
Enquanto lia, percebi que a magia não estava nas criaturas ou no leão, mas na forma como a esperança resistia, mesmo quando tudo parecia perdido. Essa, talvez, seja a verdadeira magia de Lewis.
Enredo da história de As Crônicas de Nárnia
A saga atravessa gerações e dimensões, unindo personagens humanos e criaturas míticas. O primeiro livro, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, introduz o mundo encantado de Nárnia e seu estado de eterna neve, amaldiçoado pela Feiticeira Branca. Apenas Aslam poderia restaurar o equilíbrio.
Os livros seguintes expandem o universo: novos reis e rainhas surgem, profecias se cumprem, e os antigos heróis envelhecem. Em O Príncipe Caspian e A Viagem do Peregrino da Alvorada, vemos o amadurecimento das crianças e a complexidade moral do poder. Cada história funciona isoladamente, mas todas apontam para um mesmo fim — o destino final de Nárnia e o ciclo da vida e da fé.
A narrativa culmina em A Última Batalha, onde a própria existência de Nárnia chega ao fim, e o leitor é confrontado com a morte, o julgamento e a transcendência. Uma despedida que dói, mas também consola.
O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa):
- A Descoberta do Portal: Quatro irmãos Pevensie – Pedro, Susana, Edmundo e Lúcia – são evacuados de Londres durante a Segunda Guerra Mundial e enviados para a casa de um velho professor no campo.
- A Viagem Inicial: Lúcia, a mais nova, descobre um guarda-roupa velho que serve como portal para o mundo mágico de Nárnia, que vive sob o domínio de um inverno eterno.
- O Inverno da Feiticeira: Eles descobrem que Nárnia está há cem anos sob o feitiço da Feiticeira Branca, que se autoproclamou rainha e impôs um inverno perpétuo sem Natal.
- A Tentação e a Traição: Edmundo, o segundo mais novo, é seduzido pela Feiticeira Branca, que o engana com promessas de pudim turco e poder, levando-o a trair seus irmãos e se aliar à tirana.
- O Chamado do Leão: Os irmãos se juntam às forças leais de Nárnia, lideradas por criaturas falantes e pelo verdadeiro criador e rei de Nárnia, o majestoso leão Aslan.
- O Sacrifício e a Redenção: Para salvar Edmundo da punição imposta pela Feiticeira Branca, Aslan oferece sua própria vida em um ato de sacrifício, pagando a dívida de sangue de Edmundo.
- A Magia Mais Profunda: Aslan ressuscita através de uma magia mais antiga e profunda do que a da Feiticeira Branca, liderando o exército de Nárnia na batalha final.
- A Vitória e o Reinado: A Feiticeira Branca é derrotada, o inverno é quebrado, e os quatro irmãos Pevensie são coroados Reis e Rainhas de Nárnia, trazendo paz e verão ao reino.
- O Retorno: Após um longo e próspero reinado em Nárnia, os quatro voltam inesperadamente para o mundo real, encontrando-se novamente como crianças e sem que o tempo em seu próprio mundo tenha passado.
Sociedade e Cultura (Contexto da obra)
Escrita durante o pós-guerra, Nárnia reflete os anseios espirituais e morais de uma Europa ferida. C.S. Lewis, professor em Oxford, cristão convertido e amigo de J.R.R. Tolkien, cria um universo que une teologia e imaginação de forma sublime.
A influência cristã é evidente, mas não limitante. Nárnia fala com ateus, crentes e sonhadores. É um espelho da alma humana em tempos de caos — a fé como resistência, a bondade como arma contra o cinismo do mundo moderno.
Sob uma análise mais detalhada, a sociedade e a cultura apresentadas em As Crônicas de Nárnia são ricas, complexas e profundamente informadas pelo contexto histórico, filosófico e religioso de seu autor, C.S. Lewis. Elas são construídas sobre três pilares principais:
1. A Estrutura Social e Mítica de Nárnia
Nárnia em si apresenta uma sociedade e cultura que misturam elementos de contos de fadas, mitologia clássica e tradição medieval europeia:
- Sociedade Medieval-Mítica: A estrutura de Nárnia é tipicamente medieval, com reis, rainhas, castelos e cavalaria (representada pelos Pevensie). Esta estrutura é povoada por uma cultura mitológica vasta, incluindo faunos, sátiros, centauros, anões, gigantes e animais falantes. Esta coexistência reflete o fascínio de Lewis por histórias antigas e épicas.
- Dualidade Cultural: A sociedade narniana está frequentemente em conflito com culturas externas, como a Calormânia, que é retratada com elementos de culturas orientais e do Oriente Médio. Esta dicotomia cultural é uma fonte de debate e crítica, pois Lewis utiliza essa oposição para delinear as fronteiras morais e geográficas do bem (Nárnia) e do mal (Calormânia).
- Cultura de Honra e Coragem: A cultura de Nárnia celebra a honra, a lealdade, a bravura e, acima de tudo, a fé no criador, Aslan. As crianças são elevadas a reis e rainhas não pela linhagem, mas por demonstrarem essas virtudes.
2. O Contexto Religioso e Moral (Alegoria)
A influência mais dominante na cultura da obra é o cristianismo. Embora Lewis afirmasse que não escreveu os livros como uma alegoria estrita, os paralelos religiosos são inegáveis e fornecem a espinha dorsal moral de Nárnia:
- Temas de Sacrifício e Redenção: A figura de Aslan, que se sacrifica para salvar Edmundo e ressuscita através de uma "Magia Mais Profunda," é um claro reflexo da história de Jesus Cristo. A cultura de Nárnia é construída sobre a ideia de que o sacrifício pessoal é o caminho para a redenção.
- A Criação e a Queda: O livro O Sobrinho do Mago descreve a criação de Nárnia através da canção de Aslan (similar ao Gênesis), e a introdução do mal pela Feiticeira Branca (a "Queda"). A cultura é, portanto, uma cultura de restauração, sempre lutando para retornar ao seu estado original de bondade.
3. O Contexto Histórico da Segunda Guerra Mundial
A sociedade do mundo real, da qual as crianças Pevensie vêm, é a Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial. Este contexto histórico tem um impacto direto no enredo e nos temas:
- Evasão e Refúgio: A razão pela qual as crianças vão para a casa do Professor (e, consequentemente, descobrem o guarda-roupa) é a evacuação de Londres para escapar dos bombardeios. Nárnia funciona como um refúgio psicológico contra o horror e o caos da guerra.
- Amadurecimento e Responsabilidade: A transição abrupta da infância para a guerra força as crianças a amadurecerem rapidamente, um tema espelhado em Nárnia, onde elas são instantaneamente elevadas a posições de reis e rainhas, assumindo a responsabilidade pelo destino de um reino.
Por fim, a sociedade e a cultura de Nárnia são um tecido de mitologia, moralidade cristã e escapismo, projetadas por Lewis para reacender o senso de maravilha e o desejo por virtudes em um mundo abalado pela guerra e pelo ceticismo.
Antropologia de As Crônicas de Nárnia
- A antropologia de Nárnia é centrada no conflito entre o instinto e a moral. As crianças representam a inocência em contraste com o poder corrompido dos adultos e criaturas tirânicas. O homem, em Lewis, é sempre uma criatura entre dois mundos: o terreno e o divino.
- Essa dualidade revela a luta interior de cada personagem. Nárnia é tanto um espaço físico quanto um estado de alma — uma metáfora da humanidade tentando encontrar sentido na própria existência.
Aqui estão os pilares antropológicos da obra de As Crônicas de Nárnia:
1. A Natureza Humana como "Anfíbia" (Dualidade Essencial)
Lewis via o ser humano como fundamentalmente dual ou anfíbio — metade animal (ligado à temporalidade e aos impulsos) e metade espírito (direcionado a um objeto eterno).
- O Conflito Interno: Nárnia é o palco onde esse conflito se manifesta. A tentação de Edmundo pelo pudim turco e pelo poder (impulsos materiais) simboliza a "queda" do ser humano. A jornada dele em busca de redenção personifica a luta contínua da humanidade entre o egoísmo e o sacrifício.
- A "Lei Natural": Lewis sugere que existe um padrão moral intrínseco — a "Lei Natural" ou a regra do certo e do errado. A verdadeira humanidade, em Nárnia, é definida pela obediência a essa lei, que é mais antiga do que qualquer magia.
Antropologicamente, a criança é central, pois representa a forma mais íntegra de ser humano:
- A Credibilidade da Inocência: Apenas as crianças (como Lúcia e, posteriormente, Lúcia e Edmundo) conseguem atravessar e crer em Nárnia. O professor explica que o ceticismo adulto é um obstáculo. A Antropologia de Lewis valoriza a inocência e a capacidade de maravilhar-se como condições essenciais para reconhecer a verdade.
- O Amadurecimento pela Aventura: A entrada em Nárnia não é fuga, mas sim um chamado (vocação) para o crescimento. As crianças são forçadas a agir como Reis e Rainhas, assumindo responsabilidade e honra, o que lhes permite alcançar uma versão mais completa e nobre de si mesmas.
3. A Busca pela Glória e a Coroação
O desenvolvimento humano, segundo Lewis, é impulsionado por um desejo inerente pela glória e pela transcendência.
- O Desejo Inato: Nárnia não satisfaz meramente um desejo por aventura, mas o anseio humano por algo que o mundo real não pode oferecer—a eternidade, a beleza e a justiça perfeitas. A coroação dos Pevensie como Reis e Rainhas é a concretização dessa vocação humana de ser nobre e justo.
- O Destino Eterno: A Antropologia de Lewis é teleológica (orientada a um fim). O retorno dos Pevensie à Terra, após reinarem por anos em Nárnia, e a passagem final para a "Nova Nárnia" no último livro, sugerem que a vida humana é uma jornada de aprendizado e transformação rumo a uma realidade mais plena e eterna.
4. A Cultura como Espelho do Bem e do Mal
A sociedade narniana serve como um estudo antropológico da moralidade em prática.
- A Cultura da Virtude: A sociedade ideal de Nárnia (animais falantes, faunos, etc.) valoriza a ética das virtudes (coragem, bondade, justiça), promovendo um modo de vida cooperativo e honrado sob a tutela de Aslan.
- A Cultura da Tirania: A tirania da Feiticeira Branca reflete uma cultura construída sobre a mentira, a desconfiança e o medo, onde a liberdade é reprimida e a natureza (o inverno eterno) está doente.
Em resumo, a Antropologia de As Crônicas de Nárnia é um argumento pela integridade humana, pela capacidade de redenção e pela crença de que o potencial máximo do ser humano só pode ser alcançado ao abraçar a moralidade, a responsabilidade e o mistério que existe além do mundo visível.
Drama e dilema de As Crônicas de Nárnia
O drama central é o do sacrifício. Aslam morre e renasce, Edmundo trai e é perdoado, os irmãos perdem a infância para salvar um mundo que nunca lhes pertenceu. Tudo em Nárnia gira em torno do dilema entre o egoísmo e o amor, entre a tentação e o dever.
Esse conflito ressoa em nós, porque todos, em algum momento, tivemos de escolher entre o que queríamos e o que era certo.
Apesar de tudo, o drama e os dilemas em As Crônicas de Nárnia não residem apenas nas batalhas épicas, mas nos conflitos morais e pessoais que C.S. Lewis impõe aos protagonistas, as crianças Pevensie.
Aqui está a descrição do drama e dos dilemas centrais da série "As Crônicas de Nárnia":
Drama e Dilema: O Preço da Coragem.
O drama de As Crônicas de Nárnia é impulsionado pela tensão entre a vocação real das crianças e sua natureza humana falível.
1. O Drama do Ceticismo vs. Crença (Lúcia e Edmundo)
O drama inicial de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa é a luta para provar a verdade.
- Dilema: O dilema de Lúcia é triplo; deve ela insistir que Nárnia é real, arriscando ser chamada de louca, ou deve se calar e negar a verdade que viu?
- O Drama: O drama maior recai sobre Edmundo, que escolhe, por mesquinhez e egoísmo, negar a existência de Nárnia e mentir sobre a experiência de Lúcia. O drama moral dele se intensifica quando ele trai seus irmãos e se alia à Feiticeira Branca.
2. O Dilema do Sacrifício vs. Justiça (Aslan e Edmundo)
Este é o clímax dramático da série e o ponto de virada moral:
- O Dilema: A Feiticeira Branca exige que Edmundo seja morto por sua traição, conforme a Magia Antiga que sustenta Nárnia (a justiça deve ser aplicada). O dilema de Aslan é: ele deve permitir que a justiça natural se cumpra, ou ele deve oferecer-se como sacrifício para salvar o pecador?
- O Drama: O drama é o ato de sacrifício silencioso de Aslan na Mesa de Pedra, onde ele aceita a punição de Edmundo. A tensão emocional é alcançada pela tristeza das irmãs e pela aparente vitória do Mal.
3. O Drama do Crescimento vs. Perda (Pedro e Susana)
Em vários livros, mas principalmente em Príncipe Caspian e A Última Batalha, o drama se concentra na dor de crescer e deixar a maravilha para trás:
- O Dilema: O dilema de Susana e, em menor grau, de Pedro, é: eles devem abraçar a realidade adulta, que exige o ceticismo e a racionalidade, ou devem manter a fé na magia de Nárnia, mesmo que isso os torne estranhos no mundo real?
- O Drama: A tragédia da série é a perda gradual da fé e da inocência. O drama final de Susana, que perde Nárnia porque "cresceu" e se tornou preocupada apenas com batons e meias de seda, serve como um aviso para o leitor sobre o preço de abandonar a capacidade de maravilhar-se.
4. O Drama da Liderança e da Dúvida (Pedro)
O drama do personagem de Pedro é a rápida transição de criança a líder:
- O Dilema: Pedro é o primeiro a ser forçado a tomar decisões militares e morais impossíveis (como em Príncipe Caspian). Seu dilema é: ele deve confiar em sua própria capacidade de julgamento e coragem, ou deve esperar passivamente pela intervenção de Aslan?
- O Drama: A narrativa mostra o peso da coroa, com Pedro frequentemente tendo que lutar contra suas próprias dúvidas e inseguranças de criança para se tornar o "Rei Pedro, o Magnífico".
Retrato controverso: violência, manipulação e moralidade
A violência em Nárnia é simbólica, mas poderosa. As batalhas e mortes falam sobre redenção, culpa e fé. Lewis não protege o leitor da dor — ele a utiliza como parte essencial do amadurecimento.
Há críticas veladas à religião institucionalizada, ao fanatismo e ao autoritarismo. O bem e o mal nunca são simples; eles coexistem, se confundem, e às vezes trocam de lugar.
Apesar de sua superfície de conto de fadas, As Crônicas de Nárnia contém elementos que geram controvérsia, principalmente quando analisados sob uma lente moderna de crítica social e ética.
1. Violência e a Justificação da Guerra
A violência na série é retratada de forma maniqueísta (luta clara entre Bem e Mal), mas seu uso e justificação são frequentemente questionados:
- A Santificação da Violência: A guerra em Nárnia não é uma tragédia a ser evitada, mas sim um ato necessário e heroico para restaurar a ordem. O clímax de muitos livros é uma batalha sangrenta onde a morte dos inimigos (incluindo humanos) é celebrada. O próprio Pedro é forçado a sujar as mãos de sangue, e esse ato é visto como uma confirmação de sua nobreza.
- A Morte "Justa": A violência é frequentemente justificada pela autoridade divina de Aslan. Isso sugere que a moralidade da violência depende da causa e da fonte de comando, um conceito que pode ser problemático.
- O Terror: A Feiticeira Branca utiliza a violência (transformando seres vivos em pedra) como forma de terror e controle, contrastando o uso "moralmente correto" da violência pelos narnianos.
2. Manipulação e a Ausência de Livre Arbítrio
A forma como alguns personagens são conduzidos por Aslan pode ser vista como manipulação, e o sistema moral da série reduz a complexidade humana:
- A Intervenção Divina: Aslan, embora bondoso, frequentemente guia os eventos e as decisões dos protagonistas de forma direta ou indireta, limitando o senso de autonomia ou livre-arbítrio. Seu reaparecimento oportuno muitas vezes salva os heróis de consequências reais, minimizando a necessidade de que eles resolvam problemas sozinhos.
- A Manipulação da Dúvida: O ceticismo (a dúvida sobre a existência de Nárnia ou a bondade de Aslan) é moralmente penalizado (como com Susana e, inicialmente, Edmundo). A obra incentiva a crença inabalável sobre a investigação racional, o que pode ser interpretado como uma forma de manipulação intelectual.
3. Moralidade Questionável e o Preço da Não-Crença
A moralidade na série é clara, mas inflexível e exclui aqueles que não se conformam:
- Exclusão e Punição: O destino de Susana Pevensie no livro final (A Última Batalha), onde ela é excluída do paraíso de "Nova Nárnia" por ter "crescido" e se preocupado com coisas mundanas (batons e meias de seda), é o ponto mais controverso. Isso sugere uma moralidade estreita que rejeita a feminilidade adulta e o ceticismo em favor da obediência à fé.
- O Retrato Cultural: O retrato da Calormânia e de seus habitantes, que são frequentemente descritos como tiranos e cruéis em contraste com os narnianos de aparência europeia, levantou acusações de racismo e orientalismo, sugerindo que a moralidade e a virtude estão ligadas a traços culturais e étnicos específicos.
- A Conversão Forçada: O final do livro A Última Batalha, com a aceitação forçada de um dos calormanos por Aslan após ele ter rejeitado o deus Tash, é visto por alguns como uma alegoria de conversão religiosa que desvaloriza outras fés.
Para sintétizar, a controvérsia em Nárnia reside no fato de que sua moralidade, embora poderosa em sua mensagem de sacrifício e redenção, é apresentada de forma rígida e autoritária, usando a violência como ferramenta divina e penalizando aqueles que escolhem a dúvida ou a racionalidade sobre a fé.
Personagens de As Crônicas de Nárnia
Lúcia é a pureza da fé; Edmundo, a redenção; Pedro, o dever; Susana, a perda da inocência. E Aslam… Aslam é o amor em sua forma mais misteriosa e devastadora.
A Feiticeira Branca é mais do que vilã — é a representação da ilusão do poder. Ela seduz, domina, promete um mundo perfeito e entrega o vazio. Lewis parece querer dizer que o mal, muitas vezes, é apenas o bem distorcido pelo orgulho.
Personagens Centrais de As Crônicas de Nárnia
A série é marcada por uma rica galeria de personagens que representam diferentes aspectos da natureza humana, da fé e do mistério.
I. Os Quatro Pevensie (Os Reis e Rainhas Lendários)
São os protagonistas humanos que descobrem Nárnia e cumprem a profecia de governar o reino.
Lúcia Pevensie (Rainha Lúcia, a Valente):
- Papel: A primeira a descobrir Nárnia e a que mantém a crença mais forte.
- Significado: Representa a fé, a crença e a inocência pura. Seu dilema é a perseverança da verdade contra o ceticismo dos irmãos.
Edmundo Pevensie (Rei Edmundo, o Justo):
- Papel: O irmão que, por egoísmo, trai a família e se alia à Feiticeira Branca.
- Significado: Representa a Queda e a Redenção. Seu drama é superar o erro e provar seu valor após o perdão de Aslan.
- Papel: A mais racional, prática e cética entre os irmãos.
- Significado: Representa a Razão Humana e o Ceticismo. Seu dilema final é o mais trágico: ela prioriza a vida adulta e o mundano, perdendo a fé em Nárnia.
Pedro Pevensie (Rei Pedro, o Magnífico):
- Papel: O mais velho, elevado a Alto Rei de Nárnia.
- Significado: Representa a Liderança, a Coragem e a Responsabilidade. Seu drama é assumir a autoridade e a maturidade em um mundo mágico.
II. Figuras Místicas e Arquetípicas
Estes personagens representam as forças primárias, morais e espirituais do universo de Nárnia.
Aslan (O Grande Leão):
- Papel: O criador, Rei e protetor de Nárnia.
- Significado: Representa a Divindade, o Sacrifício e o Amor Incondicional. Ele é o coração moral da série, o único a ter o poder de perdoar e restaurar a ordem.
- Papel: A tirana que impõe um inverno eterno a Nárnia.
- Significado: Representa o Mal Puro, a Tirania e a Tentação do poder. Sua existência simboliza o mundo onde a vida e a esperança foram congeladas.
Príncipe Caspian:
- Papel: O herdeiro legítimo do trono (em livros posteriores).
- Significado: Representa a Esperança, a Legitimidade e a Restauração da Magia quando Nárnia está quase esquecida pelos humanos.
Tumnus (O Fauno):
- Papel: O primeiro narniano que Lúcia encontra.
- Significado: Representa a Primeira Conexão com a Maravilha e a Bondade dos habitantes de Nárnia, além do dilema entre o medo e a moralidade.
Eustáquio Murcho:
- Papel: Primo rabugento e egoísta dos Pevensie (em livros posteriores).
- Significado: Representa a Necessidade de Transformação e a Redenção. Seu arco de personagem (especialmente quando ele se transforma em dragão e deve se arrepender) é um grande exemplo de crescimento.
As políticas, religiões e filosofias de As Crônicas de Nárnia
O universo de Nárnia é uma parábola da filosofia cristã, mas também uma reflexão sobre política e liberdade. Lewis questiona os sistemas de poder e propõe a fé como forma de autonomia interior.
Há ecos de Platão, de Santo Agostinho e até de Nietzsche — o eterno retorno da fé e da dúvida, da ordem e do caos. O autor, sem pregar, cria um espaço para pensar.
Sob análise mais aprofundada, pode-se dizer que a sociedade de As Crônicas de Nárnia é um microcosmo que reflete a visão de mundo de C.S. Lewis, um ex-ateu convertido que se tornou um proeminente apologista cristão. As políticas, religiões e filosofias em Nárnia são inseparáveis e agem como ferramentas narrativas para explorar questões teológicas e morais.
1. As Políticas: Monarquia Divina e a Luta Contra a Tirania
A política de Nárnia é primariamente uma monarquia teocrática (governo divino) em constante luta contra o totalitarismo.
- Monarquia Legítima (O Modelo Ideal): O sistema político ideal de Nárnia é um reinado justo e hierárquico, estabelecido por Aslan e restaurado pelos Pevensie. É uma monarquia baseada na virtude (honra, coragem) e na autoridade divina, não na linhagem de sangue (até Caspian). A coroação das crianças sinaliza que a liderança verdadeira reside no coração puro e na fé.
- Totalitarismo (O Mal Político): A Feiticeira Branca representa o governo tirânico e totalitário. Seu governo é marcado pela supressão da liberdade (inverno eterno), o uso de feitiços e medo para controlar a população e a negação da história e da verdade. Isso reflete a crítica de Lewis aos regimes ditatoriais do século XX.
- Ameaça Externa (Calormânia): O Império Calormano, com sua política expansionista, sociedade escravocrata e o culto ao deus Tash, funciona como o perigo político e cultural externo que ameaça a liberdade e os valores de Nárnia.
2. A Religião: Alegoria e a Magia Mais Profunda
A religião em Nárnia não é uma instituição formal, mas a relação pessoal e fundamental com Aslan. A Figura de Aslan (Alegoria Cristã): Aslan é o coração da religião de Nárnia e a alegoria mais clara de Cristo. A narrativa recapitula eventos bíblicos:
- Criação: A canção de Aslan em O Sobrinho do Mago (Gênesis).
- Sacrifício e Redenção: Sua morte e ressurreição na Mesa de Pedra em O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa para pagar a dívida de Edmundo.
- O Julgamento Final: A Última Batalha retrata o Apocalipse e a passagem para a "Nova Nárnia" (o Céu).
- A Fé como Ação: A religião em Nárnia exige crença inquestionável e ação moral. A fé não é um mero assentimento intelectual, mas a prontidão para lutar pela justiça ao lado de Aslan. A falta de fé ou o ceticismo (como em Susana) são vistos como falhas espirituais.
- Religião Falsa (Tash e Tashlan): O culto ao deus Tash na Calormânia (e a confusão sobre a identidade de Aslan e Tash no último livro) critica a falsa religião e o anticristianismo, levantando a questão de como a verdade pode ser distorcida ou misturada com o mal.
3. As Filosofias: Lei Natural e a Busca pela Transcendência
As ideias filosóficas de Lewis fornecem a estrutura moral e ética do mundo.
- Lei Natural (A Magia Mais Profunda): A filosofia moral central é a existência de uma Lei Moral Universal — a "Magia Mais Profunda do Começo do Tempo" — que governa o universo, a justiça e a vida. Essa Lei é conhecida instintivamente (como Lewis defende em Cristianismo Puro e Simples).
- Filosofia do Desejo (Sehnsucht): A série é movida pela filosofia do "anseio" ou Sehnsucht. O desejo das crianças por Nárnia é, na verdade, um anseio pela transcendência, por algo que o mundo real não pode satisfazer—o desejo por beleza e alegria eternas. Nárnia é a porta de acesso a essa realidade superior.
- A Crítica ao Materialismo e Ceticismo: Lewis critica o materialismo e o ceticismo adulto (personificado por Susana e por alguns personagens em A Cadeira de Prata). A filosofia da série prega que a racionalidade extrema pode cegar o ser humano para a verdade espiritual e a maravilha.
Enfim, vale ressaltar que a obra de Lewis usa a fantasia como um veículo para uma filosofia e religião engajadas, onde a política justa só pode ser estabelecida por líderes que primeiro se curvaram a uma autoridade moral e espiritual mais elevada, simbolizada por Aslan.
Análise pessoal da obra (As Crônicas de Nárnia)
Ler Nárnia foi como abrir uma janela dentro de mim. Eu senti saudade de coisas que nunca vivi. Chorei por um leão que nunca existiu, mas que parecia entender exatamente o que eu sentia.
Talvez por isso eu ache que Nárnia é um livro sobre o que significa acreditar, mesmo quando tudo parece desabar. A fé, aqui, é o nome que damos àquilo que nos mantém humanos.
A Magia que Ensina a Ser Humano
As Crônicas de Nárnia de C.S. Lewis transcende o gênero da fantasia para se firmar como uma obra de profunda ressonância moral e emocional. Minha leitura da série, seja na infância ou na releitura adulta, sempre me leva a uma reflexão sobre a natureza humana e a eterna busca por significado.
O Impacto Inevitável de Aslan
O que mais me toca na obra é a figura de Aslan. Ele não é apenas um deus, ou um símbolo cristão; ele é o arquétipo do amor avassalador e, por vezes, assustador.
- A Beleza do Sacrifício: A cena da morte de Aslan em O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa é de um drama emocional brutal. Ela internaliza a ideia de que o perdão tem um preço e que a justiça pode ser satisfeita pela misericórdia — um conceito que, na simplicidade da fábula, se torna universalmente compreensível. O impacto de Aslan reside em ser o mistério que exige fé, mas inspira coragem.
A Luta de Edmundo: O Retrato Mais Fiel
Embora Lúcia represente o ideal de pureza, o personagem mais autêntico e relacionável para mim é Edmundo.
- A Falha Humana: Sua traição por um capricho egoísta (o pudim turco) é um retrato honesto da nossa própria mesquinhez diária. O drama pessoal de Edmundo — de cair na tentação, experimentar o sofrimento e, finalmente, lutar pela redenção — mostra que a bondade não é inata, mas sim uma conquista árdua após o fracasso. Lewis consegue, através dele, oferecer esperança: o ponto mais baixo da vida não é o fim, mas a base para a construção da virtude.
O Dilema de Susana: Uma Crítica Dolorosa
O aspecto mais agridoce e criticável da série é, para mim, o destino de Susana Pevensie no último livro.
- O Preço de "Crescer": A exclusão de Susana por preferir "meias de nylon, batons e festas" é uma crítica dura e, pessoalmente, injusta ao processo de amadurecimento, especialmente da mulher. Embora Lewis quisesse criticar o materialismo, a punição parece desproporcional. Isso me força a refletir sobre o dilema: será que a maravilha e o espiritual são incompatíveis com a vida adulta e o natural? A recusa de Susana em crer funciona como um lembrete doloroso de quão fácil é descartar a imaginação em favor da racionalidade cínica.
Em última análise, As Crônicas de Nárnia são um convite à nostalgia do que é nobre. Lewis nos faz desejar um mundo mais puro, onde as escolhas têm peso eterno, e onde um Grande Leão pode aparecer a qualquer momento para consertar o que quebramos. É uma obra que não apenas entretém, mas moldam a percepção moral do leitor.
Temas e mensagens que a história de As Crônicas de Nárnia tenta passar
Os temas giram em torno da fé, da redenção e do amadurecimento. Lewis fala sobre como o amor exige renúncia e como o poder, sem compaixão, destrói.
Mas acima de tudo, Nárnia é uma celebração da imaginação. Um lembrete de que ainda há portas escondidas esperando por nós — se tivermos coragem de abri-las.
Por outro lado, a obra de C.S. Lewis é rica em temas e mensagens que ultrapassam a aventura, visando educar moral e espiritualmente o leitor.
Temas e Mensagens de As Crônicas de Nárnia
A série é construída como uma jornada moral e teológica, abordando conceitos complexos através da fantasia.
1. Redenção e Perdão (O Tema Central)
O tema mais forte da série, frequentemente explorado através da figura de Edmundo.
- Mensagem: O mal não é irreversível, e o perdão é um ato de graça que exige sacrifício.
2. Fé vs. Ceticismo
Lewis usa a diferença de percepção entre os irmãos Pevensie para debater a natureza da crença.
- Mensagem: A fé exige inocência e pode ser ofuscada pela racionalidade excessiva. Lúcia, a criança, é a primeira a crer e nunca duvida. Susana, a mais velha e preocupada com o mundo real (batons, vida adulta), perde a capacidade de crer. A história sugere que a "imaginação" e a "maravilha" são portas para uma verdade mais profunda, e que o ceticismo rígido impede o acesso ao espiritual.
- A frase: "Estou do lado de Aslan, mesmo que não haja Aslan. Quero viver como um Narniano, mesmo que Nárnia não exista" (Puddleglum em A Cadeira de Prata) captura a essência da decisão moral de viver segundo certos valores, independentemente da prova física.
3. O Problema do Mal e da Tentação
O Mal em Nárnia é sempre personificado e muito sedutor.
- Mensagem: O Mal se apresenta de forma atraente e promete prazer imediato, mas leva à escravidão e à destruição.
4. Autoridade e Liderança
A jornada das crianças Pevensie é de crescimento e aprendizado sobre o que significa governar.
- Mensagem: A verdadeira liderança é marcada pela coragem, justiça e serviço, não pela busca de poder.
5. A Busca pela Transcendência (O Anseio)
Este tema reflete a filosofia de Lewis sobre a incompletude da vida terrena.
- Mensagem: O anseio por um mundo melhor é real; a vida presente é apenas o começo de uma "Grande História".
O desejo de voltar a Nárnia — e, finalmente, a descoberta da "Nova Nárnia" em A Última Batalha — sugere que o nosso próprio mundo é apenas uma "sombra". A mensagem final é que o propósito da vida não é a felicidade material aqui e agora, mas a preparação para uma realidade eterna e superior. O final da série sugere que eles "viveram felizes para sempre... no Capítulo Um da Grande História que ninguém na terra jamais leu."
Estilo de escrita de C.S. Lewis para escrever As Crônicas de Nárnia
C.S. Lewis escreve com simplicidade e alma. Sua narrativa mistura a clareza da fábula com a densidade filosófica de um ensaio. É uma escrita que acolhe, mas também desafia.
Ele não escreve para entreter, mas para despertar. Cada frase parece ter sido feita para nos lembrar que o real e o imaginário estão muito mais próximos do que pensamos.
Em outras palavras, o estilo de escrita de C.S. Lewis em As Crônicas de Nárnia é notável por sua simplicidade, clareza e tom didático, que ele utiliza para tecer temas profundos de moralidade e religião na estrutura de um conto de fadas acessível.
Características do Estilo de Lewis
O estilo de Lewis é intencionalmente direto, refletindo sua crença na importância de comunicar verdades complexas de forma despretensiosa.
- Linguagem Simples e Acessível: Lewis emprega uma prosa clara e sem floreios, evitando o vocabulário excessivamente complexo. Isso torna os livros acessíveis ao público infantil, mas também permite que as verdades morais e filosóficas sejam absorvidas de forma direta por leitores de todas as idades.
- Tom de Conto de Fadas e Fábula: O estilo é fortemente influenciado pelas sagas nórdicas, mitos clássicos e contos de fadas europeus. Ele usa elementos arquetípicos (o herói, o vilão, o sacrifício) e uma narrativa linear e direta, típica das histórias orais e das fábulas, onde a moral é clara.
- Narrador Onisciente Conversacional: O narrador de Lewis é onisciente, mas também íntimo e conversacional. Ele frequentemente se dirige diretamente ao leitor com frases como "Se você já se perguntou..." ou "Como você pode imaginar...", criando uma cumplicidade e guiando o leitor através das complexidades morais da história.
- Alegoria e Simbolismo Sutil: Embora Lewis insistisse que os livros não eram apenas alegorias, o estilo utiliza o simbolismo com grande eficácia. Cada elemento—o guarda-roupa, o inverno eterno, Aslan—serve como metáfora para conceitos religiosos (sacrifício, redenção) e filosóficos (fé, maldade), mas sem forçar a identificação. A mágica funciona como uma forma de "desempacotar" a teologia e a moralidade.
- Detalhes Evocativos: O estilo é econômico na descrição, mas altamente evocativo. Lewis usa detalhes específicos para criar imagens duradouras, como o pudim turco (símbolo de tentação e egoísmo) ou a lanterna quebrada (símbolo do portal entre mundos), ancorando o mundo de fantasia em referências sensoriais marcantes.
Para concluir, Lewis cria uma ficção de imaginação e instrução, onde a clareza da escrita serve ao propósito maior de reintroduzir o leitor ao conceito de maravilha e aos princípios atemporais de bem e mal.
Curiosidades sobre a história do livro As Crônicas de Nárnia
Lewis escreveu o primeiro livro em apenas 16 semanas. As ideias nasceram de sonhos e lembranças da infância. Aslam, segundo ele, surgiu em uma visão repentina — “um leão majestoso vindo em minha direção”.
O autor nunca esperou que a série se tornasse um fenômeno. Hoje, Nárnia já vendeu mais de 120 milhões de cópias e foi traduzida para mais de 45 idiomas.
Além disso, há outras Curiosidades sobre a História de As Crônicas de Nárnia...
A criação e o legado de As Crônicas de Nárnia, de C.S. Lewis, são cercados de fatos fascinantes que se misturam com a vida pessoal do autor e o contexto da Segunda Guerra Mundial.
1. Inspiração e Gênese
- O Guarda-Roupa Real: A inspiração direta para o portal de Nárnia veio de um guarda-roupa antigo na casa de Lewis, em Headington, Oxford. No entanto, o guarda-roupa não era a única peça de mobília mágica em sua vida: Lewis e seus irmãos costumavam brincar de fantasia dentro dele quando eram crianças.
- O Nome "Nárnia": Lewis encontrou o nome "Nárnia" em um atlas antigo. Nárnia (ou Narnia) era o nome em latim de uma cidade italiana real chamada Narni, na Úmbria, que Lewis nunca visitou, mas o som do nome o cativou.
- Gestação Longa: A ideia inicial para a história (um fauno carregando um guarda-chuva) surgiu na mente de Lewis por volta de 1939, mas o primeiro livro, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, só foi publicado em 1950, após mais de uma década de gestação e tentativas frustradas de começar a escrever.
- Crianças Evacuadas: A história foi parcialmente inspirada nas crianças evacuadas de Londres durante a Segunda Guerra Mundial, que foram morar na casa de Lewis (The Kilns) para escapar dos bombardeios alemães. Ele usou essa situação real para introduzir os irmãos Pevensie à casa do Professor.
2. Ordem de Leitura e Escrita
- Ordem de Escrita vs. Ordem Cronológica: Os livros não foram escritos na ordem em que a história de Nárnia acontece:
- Primeiro livro escrito: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (1950).
- Último livro escrito: A Última Batalha (1956).
- Primeiro na cronologia: O Sobrinho do Mago (escrito em 1955, mas que conta a criação de Nárnia).
- Controvérsia: A ordem em que a série deve ser lida (pela ordem de publicação ou pela ordem cronológica da história) é um debate famoso entre leitores e editores, embora Lewis tenha defendido a ordem cronológica (começando com a criação de Nárnia).
3. Aslan e a Amizade
- O Inklings: C.S. Lewis era membro de um famoso grupo literário de Oxford chamado Os Inklings, que incluía J.R.R. Tolkien (O Senhor dos Anéis). Eles se reuniam para ler e criticar seus trabalhos em andamento.
- Tolkien e Nárnia: Tolkien, católico devoto, não gostava de Nárnia. Ele criticava a mistura de mitologias (Papai Noel, faunos, Aslan) e achava a alegoria cristã de Lewis muito "óbvia" e simplista. Apesar disso, a amizade entre eles sobreviveu.
- Aslan é a Palavra em Turco: Lewis escolheu o nome "Aslan" porque é a palavra em turco para "leão", e ele o considerou majestoso. O nome carrega um poder simples e direto que ele procurava.
4. Legado e Publicação
- O Sétimo Livro: Lewis escreveu exatamente sete livros, um número com forte ressonância bíblica (seis dias da criação mais o dia do descanso, ou os sete pecados capitais).
- Vendas: A série vendeu mais de 100 milhões de cópias em todo o mundo, sendo traduzida para mais de 47 idiomas, tornando-se uma das séries de fantasia mais vendidas de todos os tempos.
Obras semelhantes a As Crônicas de Nárnia
Se você amou Nárnia, talvez também se encante por obras semelhantes que exploram o mesmo misto de fantasia e espiritualidade, de aventura e destino.
As obras semelhantes geralmente compartilham características como a fantasia de portal, a alegoria moral ou o tom de conto de fadas, etc...
1. Fantasia de Portal e Mundos Secretos
Essas obras focam em crianças que descobrem uma passagem para um mundo mágico.
A Bússola de Ouro (Fronteiras do Universo), de Philip Pullman:
- Semelhança: Crianças (Lyra Belacqua) viajam para mundos paralelos e enfrentam temas complexos sobre a moralidade, teologia e destino.
- Diferença: É mais complexo, com um tom anti-eclesiástico (crítico à Igreja e autoridade religiosa), em oposição ao tom apologético de Lewis.
O Doador de Memórias, de Lois Lowry:
- Semelhança: Embora não seja um portal físico, o protagonista (Jonas) descobre a verdade sobre um mundo oculto por trás de uma sociedade rígida e sem emoções. Toca em temas de livre-arbítrio e o preço da inocência.
- Semelhança: Apresenta um mundo secreto e mágico coexistindo com o nosso, mas invisível para a maioria.
2. Fantasia Clássica e Épica Moral
Estas obras compartilham a estrutura épica, a luta clara entre o bem e o mal, e personagens arquetípicos.
O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien:
- Semelhança: O épico de fantasia por excelência, escrito por um amigo íntimo de Lewis (ambos membros dos Inklings). Possui uma luta clara entre o bem e o mal, com temas profundos de sacrifício e amizade.
- Diferença: É mais denso e sério, com uma mitologia mais formal e complexa que Nárnia.
Harry Potter, de J.K. Rowling:
- Semelhança: Embora mais moderna, compartilha o tema da criança órfã (ou separada da família) que descobre um mundo mágico oculto. Aborda o tema da escolha e do amor como a forma mais poderosa de magia.
A Espada do Inverno (O Ciclo de Dark is Rising), de Susan Cooper:
- Semelhança: Também se inspira na mitologia britânica e apresenta crianças que são chamadas a lutar contra as forças das trevas, frequentemente durante o inverno.
3. Protagonistas Jovens e Temas de Amadurecimento
Estas obras focam na jornada de amadurecimento das crianças através de provações fantásticas.
Uma Dobra no Tempo, de Madeleine L'Engle:
- Semelhança: A fantasia tem um forte componente moral e filosófico, com crianças viajando pelo tempo e espaço para enfrentar o mal, que se manifesta como conformidade e escuridão.
- Mensagem: Enfatiza a importância da individualidade, do amor e da fé para combater o Mal.
Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry:
- Semelhança: Embora seja uma novela curta, compartilha o tom de fábula didática e a crítica à mentalidade adulta (o "ceticismo" de Nárnia), celebrando a inocência e a clareza da visão infantil.
Se você está procurando pela alegoria moral e a fantasia acessível de Lewis, comece por Uma Dobra no Tempo ou a obra de Tolkien.
Um pouco sobre o autor de As Crônicas de Nárnia
Clive Staples Lewis nasceu em Belfast, Irlanda, em 1898. Foi professor de Literatura Medieval em Oxford e amigo íntimo de Tolkien. Ateu por boa parte da juventude, converteu-se ao cristianismo após uma crise existencial profunda.
Essa jornada interior influenciou toda a sua obra, que mistura fantasia e teologia com sensibilidade rara.
Falando um pouco mais sobre C.S. Lewis, o Autor de As Crônicas de Nárnia...
C.S. Lewis (Clive Staples Lewis) foi um dos intelectuais e escritores mais influentes do século XX. Sua vida e carreira foram marcadas por uma profunda jornada intelectual e espiritual que informou toda a sua obra.
Vida e Formação
- Nascimento e Origem: Lewis nasceu em Belfast, Irlanda, em 29 de novembro de 1898. Ele perdeu a mãe ainda jovem, um evento que o marcou profundamente.
- Carreira Acadêmica: Lewis foi um respeitado professor e acadêmico, lecionando Literatura Inglesa nas universidades de Oxford e Cambridge. Ele era especialista em literatura medieval e renascentista.
- O Inklings: Foi membro de um famoso grupo literário de Oxford chamado Os Inklings, que se reunia para ler e discutir seus trabalhos. Seu colega mais famoso neste grupo era J.R.R. Tolkien (autor de O Senhor dos Anéis).
A Jornada Espiritual: Do Ateísmo à Apologia
A mudança mais significativa na vida de Lewis foi sua conversão:
- O Ateu Convicto: Lewis foi um ateu convicto durante grande parte de sua juventude e início da vida adulta.
- A Conversão: Ele gradualmente se converteu ao cristianismo (Anglicanismo) na década de 1930, influenciado por conversas com Tolkien e outros amigos, e por meio de uma leitura profunda de mitos e filosofia.
- Apologista Cristão: Após sua conversão, Lewis se tornou um proeminente apologista cristão, usando a razão e a imaginação para defender a fé. Suas obras mais famosas nesse campo incluem Cristianismo Puro e Simples e Cartas de um Diabo a Seu Aprendiz.
O Legado de Nárnia
Lewis começou a escrever As Crônicas de Nárnia durante a Segunda Guerra Mundial.
- A Suposição: Lewis descreveu Nárnia não como uma alegoria rígida, mas como uma "suposição": E se Jesus, que se tornou homem no nosso mundo, se tornasse um leão em um mundo de fantasia?
- Mensagem Central: Ele usou a fantasia para reintroduzir conceitos cristãos (como sacrifício, redenção e criação) a um público moderno, mas sem o "bloqueio" que alguns leitores adultos sentiam em relação à doutrina religiosa tradicional.
Lewis morreu em 22 de novembro de 1963, o mesmo dia em que Aldous Huxley e o Presidente John F. Kennedy faleceram.
Reflexão final sobre As Crônicas de Nárnia
Fechei o livro com a sensação de ter deixado um pedaço de mim em Nárnia. Há algo de profundamente humano em acreditar em leões que falam e em portas que se abrem sozinhas. Talvez, no fundo, todos nós estejamos apenas procurando o caminho de volta para casa.
E talvez Nárnia seja isso — o eco de uma lembrança antiga, de quando ainda sabíamos sonhar.
E ao refletir sobre As Crônicas de Nárnia... Pode-se concluir que a obra consolida não apenas como uma série clássica de fantasia, mas como um poderoso espelho moral e um convite constante à redescoberta. A obra de C.S. Lewis transcende a simples aventura infantil para se tornar uma meditação sobre a natureza humana, a fé e o preço da maturidade.
O Legado da Porta Aberta
O maior legado da série é o seu conceito de fantasia de portal. Ao transformar um simples guarda-roupa ou um anel de jardim em um limiar para o maravilhoso, Lewis nos ensina que o extraordinário não está distante, mas escondido nas frestas da vida cotidiana. Isso confere à obra uma ressonância nostálgica profunda, alimentando no leitor o anseio (Sehnsucht) por um mundo mais justo e mais belo do que o nosso. Nárnia funciona como um refúgio e, simultaneamente, como um campo de treinamento para a alma.
A Inevitabilidade Moral
A força duradoura de Nárnia reside em sua clareza moral, centrada na figura de Aslan (o amor sacrificial) e na jornada de Edmundo (a redenção). Através de uma linguagem de fábula, Lewis introduz temas complexos—como a necessidade do perdão, o alto custo da traição e a luta entre o Mal e o Bem—de forma universalmente acessível. O drama da série é, em última análise, o drama de todo ser humano: a escolha contínua entre o egoísmo imediato (o pudim turco) e a virtude que exige sacrifício.
O Preço da Inocência Perdida
A reflexão final da série é agridoce. Embora celebre a coragem, ela lamenta o preço da perda da inocência, personificada no destino de Susana Pevensie. Ao alertar o leitor sobre a facilidade com que a racionalidade adulta e o materialismo podem "congelar" a capacidade de crer, Lewis nos faz questionar: o que sacrificamos em nome da maturidade? A mensagem final é que a vida terrena é apenas o "Capítulo Um" de uma grande história, e a verdadeira sabedoria reside em nunca abandonar a capacidade de Lúcia de ver a maravilha.
As Crônicas de Nárnia é, portanto, mais do que uma série; é um convite perene à esperança, lembrando-nos de que a virtude é a única coroa que vale a pena carregar, e que o Leão está, de fato, a caminho.
Informações do livro em Google Books
Informações da obra e editora (ISBN, páginas, links, onde comprar)
Título: As Crônicas de Nárnia
Autor: C.S. Lewis
Editora: HarperCollins Brasil
Páginas: 752
ISBN: 978-8578273692
Gênero: Fantasia, Aventura, Clássico
Onde comprar: Disponível em Amazon, Submarino, Americanas e principais livrarias online.